terça-feira, 20 de maio de 2008
Um conimbricense que adorava o México
De 1992 a 2002, tive residência na histórica vila de Santa Ana, na República da Costa Rica, e na Primavera de 1993 começara a relação epistolar entre o autor deste escrito e Joaquim Montezuma de Carvalho, que chegou até ao fim da sua vida terrena. Muitíssimas cartas, enviadas desde a Costa Rica, chegaram a casa do meu bom amigo com livros, postais ilustrados, revistas e recortes de jornais mexicanos, chilenos e costarricenses. Das inumerosíssimas crónicas escritas no jornal O Primeiro de Janeiro ("Das Artes, Das Letras"), em jornais e revistas da vizinha Espanha e países hispano-americanos, Joaquim Montezuma de Carvalho inspirou-se nos escritos jornalísticos oriundos da Costa Rica *, do México e do Chile. Assim aconteceu nas crónicas intituladas "Don Quijote en Espanglish", publicada no suplemento "Das Artes, Das Letras" de 17-03-2008, e "Ex-libris de Afonso Lopes Vieira, ex-libris de Portugal", no mesmo suplemento a 03-09-2007. No ano de 2002, tive o privilégio de conhecer pessoalmente o amigo Joaquim de Carvalho, sua esposa e seu filho, na residência familiar, sita na Rua dos Remédios, 146-3º, em Alfama, a escassos 300 metros do Museu Militar. Joaquim Montezuma de Carvalho vivia num mundo muito seu… via pouquíssima televisão. Não tinha paciência para ouvir relatos de futebol. Não ligava muito às novas tecnologias. Não amava o dinheiro, amava a vida. Por isso vivia um estilo de vida pleno se simplicidade franciscana. A sua grande paixão era ajudar gente necessitada, ler os clássicos e escrever, escrever, escrever. Mesmo cheio de dores não deixou de escrever. Morreu a escrever.Das visitas feitas a sua casa recordo o "aperitivo sagrado" antes do almoço: uma tisana, de cor rosada, feita de umas ervas aromáticas oriundas da Índia.Em longas conversas por telefone, Joaquim Montezuma confessara-me ter uma "costela" de imperador azteca, Moctezuma II (1466-1520). Com efeito, tinha um especial carinho por tudo quanto fosse mexicano. Creio que ele foi o único português que teve o privilégio de conhecer, em pessoa, Octávio Paz (Prémio Nobel de Literatura 1990) e Mário Moreno "Cantiflas" (actor cómico) na própria terra: México. Não restam dúvidas nenhumas que o nome de Joaquim Montezuma de Carvalho ficou ligado à dignificação do jornalismo luso-hispânico-mexicano. Foi muito produtiva a actividade intelectual de Joaquim de Montezuma de Carvalho. A escrita foi a sua vida! Desse espólio guardo na minha biblioteca o volume, com mais de quinhentas páginas, intitulado "Do tempo e dos homens", publicado em Julho de 2007 pelo Instituto Piaget, Lisboa. "Do tempo dos homens" é um livro para ler e reler! Em suma, há muito a fazer para um estudo minucioso do interessantíssimo labor intelectual deste conimbricense, protagonista duma geração que apaixonadamente, gratuitamente, deu a conhecer, em Portugal, grandes figuras humanistas que marcaram a viragem do século XIX para o século XX. Morreu o homem, mas o cronista-pensador não. O espólio bibliográfico de Joaquim de Montezuma de Carvalho encontra-se bem guardado na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim. Já seu pai, Joaquim de Carvalho, doara seu espólio bibliográfico à Biblioteca Municipal Santos Rocha da Figueira da Foz.
Dedico este texto ao arqueólogo João Reigota, pela sua volumosa obra de pesquisa nos domínios da arqueologia e da geografia física e humana, que deu origem à volumosa publicação científica nas áreas da história e do património, intitulada "Gândara antiga".
Luís de Jesus (In das Artes e das Letras - Suplemento do Jornal O Primeiro de Janeiro)
* A Assembleia Legislativa da Costa Rica declarou Joaquim Montezuma de Carvalho "Benemérito da Pátria".
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Um aperto no coração...
Lentamente o branco cinza das tuas cinzas se diluiu nas águas mansas do Mondego. E este conduziu-te à última morada por ti escolhida... o mar.
Tal como os primeiros navegadores portugueses que se atreveram a enfrentar o desconhecido nas paragens inóspitas do oceano infindo, também nele mergulhaste, confundindo-te com as águas imensas que Camões referiu como “húmido elemento”.
Não no “húmido elemento”, mas no elemento da douta sabedoria te atreveste a enfrentar os Adamastores e Velhos do Restelo desvendando novos caminhos para a auto-reflexão das ideias feitas e outras não feitas, mas simplesmente desconhecidas. Granjeaste amores e desamores nas horas tardias das vielas emaranhadas do conhecimento, não por glória, mas pela pura philos sophia que caracterizou todo o teu percurso de vida.
Hoje, num dia de Liberdade (25 de Abril) para a nação que te viu nascer, partes sem dor porque a dor já a consumiste nos anos porfiados e tecidos com as finas teias da culturalidade que abraçaste incessantemente. Partes livre como as águas que correm para o imenso oceano. Arrastas contigo todo o peso de uma vida dedicada à palavra e ao pensamento crítico de quem não dorme sobre a opulência do saber. Partes sabendo que levas contigo a mensagem silenciosa de quem gritou no anonimato a liberdade de expressão. Não a liberdade vã de quem se acha no pleno direito do tudo, transformando este belo ideal em libertinagem descontínua, doseada à maneira de cada um. Essa, a Liberdade da Palavra, transmitiste-a honestamente sem coro, mas com o decoro necessário para te fazeres amar por muitos que privaram contigo o suficiente para te conhecer na tua imensa humildade de poeta prosador, cantor da verdade.
A rosa derramada sobre as tuas cinzas já se confundiu nas cores da distância e das águas do Mondego. Um aperto no coração anuncia-me o derradeiro adeus. De novo me senti o “Bolinhas” (nome carinhoso com que me tratavas em criança), pequeno, vivaz e sempre irrequieto, buscando as verdades que só tu vias e compreendias a teu modo. Parece que ao longe escuto a tua voz cansada embargada pelo sono, anunciando o final da história nocturna: “estou cheio de sono... vou descansar!”
terça-feira, 29 de abril de 2008
Sonetos sentidos
A Joaquim Montezuma de Carvalho
Que Deus recebeu no Céu em 6 de Março de 2008
Joaquim Montezuma - um Escritor
Conhecido, mesmo, além de Portugal,
Ou não fosse ele um intelectual
E filho dum notável Professor.
Duma cultura vasta, original,
Tinha um vocabulário criador.
Nas letras foi um vulto pensador,
Mestre em literatura Universal.
Era um Computador (a sua mente)
De memórias pra ceder a toda a gente
Que gostasse de ensino, saber mais…
Perdemos um Amigo de valência
Que já não manda mais correspondência,
Fotocópias, recortes de jornais.
Clarisse Barata Sanches - Góis – Portugal
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Pelo reparo amigo que me deu
na fase mais atroz da minha vida
desejo-lhe, com alma agradecida,
um bom lugar junto de Deus no céu.
Bem o merece, independentemente
do seu carácter recto e generoso,
pela afeição que tinha a toda a gente
com quem mantinha trato primoroso.
Não me conformo com a perspectiva
de nunca mais, daqui para diante,
fruir da sua prosa fascinante.
Terei de contentar-me com reler
os seus "ensaios", sempre que puder,
"a jeito" de emoção retrospectiva!
João de Castro Nunes
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Joaquim de Montezuma de Carvalho
In memoriam
Foi-se hoje embora um grande Amigo meu:
é com a mais profunda dor que espalho
a notícia brutal de que morreu
o Dr. Montezuma de Carvalho.
Grande senhor de uma invulgar cultura,
que partilhava com os seus leitores,
era a mais excelente criatura
e o mais sentimental dos escritores.
Como seu Pai, em prol da Liberdade,
bateu-se desde a sua mocidade
pela franca expressão do pensamento.
Honrou sua Família, amou a Deus
e num estilo forte e virulento
reverberou tiranos e ateus!
Coimbra, 6 de Março de 2008
João de Castro Nunes
segunda-feira, 28 de abril de 2008
LEMBRANÇA DE JOAQUIM DE MONTEZUMA DE CARVALHO (1928-2008)
Dizemos lembrança como poderíamos dizer evocação ou simplesmente comunhão com Joaquim de Montezuma de Carvalho. A palavra homenagem, que hoje em dia quantas vezes se veste de ridículo, é aqui evitada, porque, de facto, não houve discursos oficiais nem protocolos alheios à verdadeira natureza do acontecimento. Porém, o momento foi carregado de significado. Para além de sua esposa D. Maria Júlia Neto Montezuma de Carvalho, de seu filho Dr. Joaquim Manuel Montezuma de Carvalho, nora Dra. Ana Maria Ramalho Montezuma de Carvalho e neto Miguel Afonso, de outros familiares (irmãos, cunhados, sobrinhos e o predilecto afilhado e estimado como filho, o Prof. Mário Jorge Ferreira) e de um reduzido grupo de amigos que conviveram anos e anos com o escritor e crítico literário, não se encontrava mais ninguém. Ou seja, nada a mais e nada a menos, na manhã de 25 de Abril, com um sol radioso. Por ironia do destino, neste dia da liberdade, a lembrança de um homem, falecido a 6 de Março, que sempre se manteve livre de qualquer ditadura: seja a política ou as outras mais brandas, mas que tolhem a liberdade de pensar e de agir. Não é de admirar num pensador e escritor que, pela mão de seu pai o prof. Joaquim de Carvalho, estudou Espinosa e que, durante toda a sua vida, sempre pugnou pelas rotas literárias e culturais (dum modo particular dos mundos hispânico e lusófono) destinadas a aproximar os povos, nas suas singularidades desejadas, sem formatações iguais tão ao gosto de alguns. Por isso, Joaquim de Montezuma de Carvalho, com a sua visão longínqua e alta, isto é, de águia, nunca parou nas capelinhas, mas sempre preferiu a ampla catedral onde cada um, podendo ter o santo da sua preferência, não nega o santo de quem está a seu lado, já, que - permita-se-nos a conclusão da metáfora – todos os santos são santos!
A concentração teve lugar no Largo da Portagem, em Coimbra, junto ao parque e defronte ao Mondego, pouco depois das 11 horas. Alguém referiu que o currículo do autor, que em 1970 recebeu,
A cerimónia propriamente dita começou com a leitura de um pequeno trecho da última publicação do autor, pelo próprio filho. Seguiu-se a evocação do autor pelo escritor e poeta Raul Traveira que leu, de sua autoria, Variações
Concluindo assim este roteiro de saudade e de gratidão, o poeta Raúl Traveira leu Versos e Contrastes, que já havia dedicado ao Professor Joaquim de Carvalho; poemas também recitados pela poetisa figueirense Manuela de Azevedo e pela bibliotecária Gracília Carmo que, para além do bonito poema que leu, o fez anteceder de palavras comoventes e de gratidão por tudo o que o autor fez pela Figueira e muito especialmente no enriquecimento do acervo da biblioteca municipal no que toca à literatura ibero-americana. Numa tarde de branca espuma, junto ao farol do molhe, numa tarde igual a tantas outras que Joaquim de Montezuma desfrutou, desta vez vimos uma rosa sobre as águas, como um barco, pairando, símbolo da flor do espírito que permanece no eterno movimento da vida, pois ele deu mais vida à própria vida, mais alegria ao seu semelhante, afrouxando as fronteiras limitadoras.
Coimbra - Figueira da Foz, 25-04-08
Eduardo Aroso
terça-feira, 22 de abril de 2008
Informação breve

sexta-feira, 7 de março de 2008
Homenagem de "O PRIMEIRO DE JANEIRO"
quinta-feira, 6 de março de 2008
Anotações dispersas...
Esta é sem dúvida a melhor descrição daquilo que foi o seu amor às letras e à cultura.